quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

um conto de Natal


A história passa-se perto de uma aldeia de Vesges, numa casa isolada, próximo de uma floresta de pinheiros.
– Papá, perguntou Jean Lou, quando acordou – Quero uma árvore de Natal.  Os meus amigos da aldeia vão todos ter uma.
–Mas tu não tens necessidade de uma árvore de Natal, respondeu-lhe o pai.  – Há tantas em volta da casa.
– Não árvores de Natal, são pinheiros.
– É a mesma coisa.
Oh, não, não era a mesma coisa, pensou o filho.  Para um pinheiro se tornar uma árvore de Natal, é preciso que se ilumine, e que tenha prendas para os meninos!
Jean Lou sentiu o coração encher-se de desgosto.  A mamã tinha morrido na Primavera, e op ai, sozinho com dois filhos, não substituía a sua ternura.  Mas Jean não perdera de todo a esperança e perguntou ao irmão mais velho, Lucien, — O que é preciso para ter uma árvore de Natal.
Ora os pintarroxos, essas avezinhas simpáticas de babete vermelho, vão próximo das casas, não têm medo das pessoas, mas vivem sempre isoladas.  Jean Lou entrou em casa,  colou o rosto  contra o vidro da janela e observou atentamente a estrada.  Era o entardecer.  Um pintarroxo pousou nela, de seguida um outro sobre um arbusto. O coração do menino saltou acelerado, enquanto via um terceiro pousar sobre um tufo de ervas.
– Um, dois, três… contou o rapazinho.
– Vejo-os, vejo os três pintarroxos, vou ter a minha árvore de Natal!
Precipitou-se de encontro a Lucien, que regressava do campo: — Vou ter minha árvore de Natal!
– Mas que se passa?  Admirou-se Lucien, que tinha esquecido a brincadeira.
– Vi três  pintarroxos juntos!
–  Juntos?  Uns ao lado dos outros?
– Não. Um na estrada, outro num arbusto e outro sobre a relva.  Mas vi-os ao mesmo tempo.  Vou ter a minha árvore de Natal?
– Sem dúvida, prometeu o irmão, perante tanta alegria.  Mas como?
Lucien bem gostaria de dar essa alegria ao seu irmãozinho, mas como encontrar uma verdadeira árvore de Natal?
Após o jantar, Lucien foi dar um passeio, procurando uma idéia. Pinheiros não faltavam.. e quando acariciava um dos mais bonitos, a percebeu-se de um suave murmúrio: “eu farei uma bonita árvore de Natal, se tu quiseres…”
– Não posso levar-te para casa.
– Trarás o teu irmão junto de mim.
– Mas… falta-te tudo, para seres uma árvore de Natal.
– Podemos encontrar tudo aqui.  Tenho amigos, a neve, a geada, as corujas, os silvados, a lua, o céu e até mesmo as aranhas, que estão escondidas no celeiro.  Os meus amigos poderão ajudar-te, não queres?
Então a neve disse:  “Tornarei branco o pinheiro, como se fosse de arminho”; a geada pronunciou: “Fá-lo-ei brilhar como se estivesse salpicado de diamantes”; os silvados: “Nós temos bonitas bagas vermelhas”;  as corujas prometeram dissimularem-se nas ramagens e abrindo e fechando os olhos brilhantes, substituírem as lâmpadas elétricas.
O céu oferecia as estrelas, para enfeitar as pontas dos ramos, e a Lua estenderia os seus raios brilhantes, para colorir as pinhas e os brinquedos de madeira que Jean teria.
Lucien regressou a casa, contentíssimo.  Mas de repente, pensou que se tinha esquecido das aranhas.  Que poderiam elas oferecer?  Foi ao celeiro.
– Fizeste bem em vir, disseram elas, poderemos tornar a árvore verdadeiramente bela.  Lançaremos fios de alto a baixo, e a envolveremos numa rede de renda.
– Mas os vossos fios são escuros e tristes?!?!
– Não.  A geada prateará os nossos fios, verás.
A noite de Natal chegou.
O pai tinha comprado um lindo bolo.  Jantaram e deitaram-se.  Assim que pressentiram que o pai dormia, Lucien agasalhou muito bem o irmão e saíram silenciosamente.
Ao  dobrar a esquina da estrada, Jean parou fascinado.  A Árvore de Natal estava ali, grande e tão bem enfeitada que nada poderia haver de mais belo.
Os ramos cintilavam.  Longos fios prateados envolviam-na e as corujas  escondidas abriam e fechavam os olhos alternadamente.
Jean nem se preocupava com os brinquedos, pendurados pelo irmão:  um pífaro feito de um junco, animais feitos à faca, um cachimbo e misteriosos saquinhos com berlindes, bombons e outras coisas.
A Lua dava um tom dourado a tudo.  As estrelas cintilavam docemente nas extremidades dos ramos, enquanto ao longe, o som mavioso dos sinos subia e chegava até eles.
Foi assim que Jean, o menino órfão de mãe, pode ter, para ele só nessa noite, a mais linda árvore de Natal.
Gregório José

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